Figuras da Festa

  

 

João Alves Branco Núncio, nasceu em Alcácer do sal a 15 de Fevereiro de 1901. Filho de lavradores viveu sempre em permanente contacto com a terra pela qual era apaixonado. “O cheiro da terra molhada, que os poetas cantam, é um grande estimulante. Anima-nos sempre a maiores empreendimentos. Se a terra nos ajuda tanto, devemos-lhe gratidão”, afirmou o cavaleiro numa das suas crónicas. O seu pai criava touros de lide pelo que cedo despertou para aquela que viria a ser a sua verdadeira vocação: a de cavaleiro tauromáquico. Com apenas 13 anos, João Núncio fazia a sua primeira apresentação em público na Praça de Touros de Évora. No entanto, obrigado a prosseguir os estudos, é forçado a deixar as arenas por algumas temporadas. Só regressa às lides em 1917, depois de ter concluído o Curso Geral do Comércio na Escola Académica de Lisboa, onde conhece o seu amigo e companheiro de arenas, Simão da Veiga. Começa então a actuar em praças de província, mas o seu estilo inovador e o génio que revela na arte do toureio deixam adivinhar a brilhante carreira que o cavaleiro viria a ter. Apadrinhado por António Luís Lopes, João Branco Núncio recebeu a alternativa a 27 de Maio de 1923, na histórica Praça de Touros do Campo Pequeno, em Lisboa. Na altura, o cavaleiro era já figura de destaque no meio tauromáquico. Uma semana depois de receber a alternativa é contratado para tourear no Campo Pequeno, mas faz constar do seu contrato uma cláusula em que exige lidar apenas touros puros, ou seja, animais que nunca tivessem ido toureados ou corridos em praça. Com a ajuda do seu amigo Simão da Veiga, João Núncio inicia uma revolução na tourada portuguesa que conduz ao abandono do uso do touro corrido. O cavaleiro revela-se também inovador na forma como preparava as suas montadas. Cada um dos seus cavalos adaptava-se a uma lide específica. Conhecido como o “Califa de Alcácer” e considerado como uma das mais altas figuras do toureio equestre, João Núncio conquistou o público dentro e fora de Portugal com o seu estilo espectacular e figurativo. Toureou pela última vez a 21 de Outubro de 1973. Ao longo da sua carreira, terá participado em cerca de mil touradas, lidado mais de dois mil touros e utilizado 61 cavalos. Morreu a 26 de Janeiro de 1976, na Golegã.

 

 

José Mestre Batista, nasceu em São Marcos do Campo em 30 de Maio de 1940 e com apenas 13 anos de idade fez a sua estreia como cavaleiro amador na Praça de Toiros de Mourão, em Fevereiro de 1953 aquando das Festas da Senhora das Candeias, tendo lidado a sua primeira vaca em público. Após esta primeira actuação e sentindo que necessitava aprender equitação, porque até esse momento não tinha tido qualquer tipo de ensino, inscreveu-se na Escola de Mestre Nuno de Oliveira, onde esteve algum tempo. Nas temporadas de 1954 a 1958 actuou como amador em diversas praças do país. Recebeu a alternativa de cavaleiro tauromáquico, concedida por D. Francisco Mascarenhas, na Praça da Moita do Ribatejo em 15 de Setembro de 1958, depois de ter sido reprovado na Monumental do Campo Pequeno em 15 de Julho desse ano. José Mestre Batista revolucionou o toureio a cavalo e era contratado pelos empresários nas principais praças e feiras do país. Os empresários conheciam a sua enorme entrega nas arenas, a sua disposição de tourear qualquer ganadaria e sem vetar nenhum outro cavaleiro. O público que de início não compreendeu o seu toureio, rendeu-se à sua tauromaquia e assustou-se com o seu toureio frontal e ao piton contrário. Se antes alguns o tinham tentado, foi José Mestre Batista que o realizou sempre, independentemente da praça onde actuava. Alguns, mais incrédulos, recomendavam aos que sofriam do coração que era perigoso verem “os ferros à Batista”. Como é do conhecimento dos aficionados mais antigos, na temporada de 1962, alguns cavaleiros desse tempo quiseram preparar um boicote a José Mestre Batista, talvez por estarem incomodados com o seu estilo de toureio. Tal não aconteceu porque entretanto Manuel dos Santos passou a ser o empresário do Campo Pequeno e acreditou que seria necessário incluí-lo nos cartazes da primeira praça do país. Foi com grande expectativa que muito público se dirigiu à Monumental do Campo Pequeno em 8 de Agosto de 1963 e com emoção viu, pela primeira vez, a competição entre dois marcos do toureio a cavalo: João Branco Núncio/José Mestre Batista. Competição que se seguiu em muitas outras corridas . Depois... Álvaro Domecq Romero/José Mestre Batista, lidando toiros em pontas mas à portuguesa e sem o desacelerador dos rojões de castigo. O que dizer dos confrontos Mestre Batista  com José Núncio, com Maldonado Cortes, com Gustavo Zenkl, com José João Zoio ou com Manuel Jorge de Oliveira. A parelha Mestre Batista/Luís Miguel da Veiga foi o motivo de praças esgotadas em 1969 e originou enormes e acaloradas discussões dos aficionados. Cartaz que se anunciou por vários anos, com agrado do público que acompanhou os êxitos destes dois cavaleiros. Por fim também a competição com esse novo marco do toureio equestre chamado João Moura. Uma maravilha! Sofreu algumas colhidas, tendo sido uma das mais graves na Praça de Espinho durante a temporada de 1973. Dos vários cavalos que teve, há que destacar entre outros o “Falcão”, sem ferro e o “Forcado”, com ferro Murteira Grave. José Mestre Batista faleceu por doença em 17 de Fevereiro de 1985, na cidade de Zafra (Espanha).

  

 

Diamantino Viseu, nasceu em Lisboa a 30 Julho de 1923. Caso único do toureio em Portugal sempre quis ser matador de toiros, sem ter ninguém da sua família ligada à tauromaquia; temos aqui um caso de luta e persistência pelos seus ideais: Em Portugal não havia a arte de Matador de toiros, os ganadeiros Portugueses nunca o ajudaram na sua aprendizagem, nunca lhe cederam sequer um bezerro para os treinos. Teve de imigrar para Espanha onde o êxito foi imediato e o rapazinho vestiu pela 1ª vez traje de “luces” na praça de Toledo. A 23 de Março de 1947, na praça de toiros de Barcelona, recebe alternativa de Matador de toiros sendo seu padrinho Pepe Bienvenida! Oficialmente seria o 1º matador de toiros Português, seguindo-se logo de Manuel dos Santos. Grande toureiro criador de um estilo muito próprio que os entendidos de tourada logo chamavam de “Diamantinas”, (Passo de muletas por si inventado). O êxito foi tanto que foi convidado para participar como protagonista ao lado da "Diva" do fado Amália Rodrigues, na 1ª longa-metragem produzida a cores em Portugal: “Sangue Toureiro” (1958). Parcialmente gravado na praça de toiros do Montijo. Sempre toureando entre Espanha, México, Portugal, o povo adorava-o e enchia praças só para o ovacionar! A sua corrida de despedida foi no Campo Pequeno a 24 de Agosto de 1972! Faleceu a 11 de Fevereiro de 2001 vítima de estúpido atropelamento na Av. de Berna em Lisboa! Várias romagens se fizeram ao sítio onde Diamantino Viseu perdeu a vida, pelos cidadãos imobilizados do nosso país vitimas deste tipo de acidentes!

 

 

Quando entrou na praça de toiros El Toreo, no México, na tarde de 14 de Dezembro de 1947, Manuel dos Santos foi recebido com expectativa. Naquele dia tomava alternativa de matador de toiros, concedida por Fermín Espinosa “Armillita”. Mas não foi bafejado pela sorte. O seu “traje de luces” perdeu o brilho e encheu-se de sangue depois de receber uma violenta cornada. Partiu o fémur e renunciou à alternativa. Só não perdeu o sorriso, como comprova uma fotografia tirada na altura em que era levado da arena. O seu percurso é assim: feito de calor e de alvoroço. Nascido em Lisboa em 11 de Fevereiro de 1925, Manuel dos Santos recebeu o nome do avô, o toureiro Manuel dos Santos “Passarito”, que o criou na Golegã. O ambiente da terra - a meca da festa brava - e a existência de familiares ligados à arte de tourear fizeram com que se apresentasse em público com apenas 13 anos. Tratava-se apenas de uma vacada, mas chamou a atenção de mestre Patrício Cecílio, que o ensinou. Faz a sua primeira apresentação como bandarilheiro em Lisboa em 26 de Julho de 1944, mas não abandonou os estudos na Escola Comercial de Tomar. Só em 1946 se deixa levar pela paixão. Parte para Sevilha para tornar realidade o sonho de se converter em matador de toiros. A aventura é bem sucedida e a praça de Badajoz recebe Manuel dos Santos no papel de novilheiro. Naquele dia, 26 de Junho de 1947, corta três orelhas e um rabo aos toiros que lhe são apresentados. É levado em ombros por uma multidão rendida. Esta seria a primeira mas não a última exibição em que teria tal efeito no público. Na temporada que se seguiu, actuou em Portugal e em Espanha e em cinco tardes seguidas na praça de Barcelona - sai duas vezes em ombros. Estava lançado. Em Dezembro de 1947, no El Toreo, sofreu um doloroso revés: partiu o fémur depois de uma cornada violenta. Mas a vontade não esmoreceu e voltou a tomar alternativa de matador em Sevilha, em 15 de Agosto do ano seguinte. Para que não houvesse dúvidas, depois de início tão aziago, confirmou-a em Madrid em Junho de 1949. Nos anos seguintes, andou por Portugal e Espanha, mas também por países da América Latina, como o México, a Colômbia e a Venezuela, onde a herança latina deixara o apreço por esta festa. O ano de 1950 traz-lhe a consagração e coloca-o ao lado de portugueses tão famosos como Amália e Eusébio. A tourada era, nesta altura, um dos “cartões-de-visita” do País no estrangeiro. “Toiros e só / Não há nada / Que uma toirada com mais emoção! / Não há festa com mais cor / Que mais fala ao coração!”, cantava Amália no filme “Sangue Toureiro”, onde contracenava com Diamantino Viseu, outro toureiro famoso na altura. A celebridade não impediu Manuel dos Santos de ser preso em 1951, quando matou um touro na Praça do Campo Pequeno. Passou a noite na prisão, mas acabou por ser absolvido no julgamento que se seguiu. Algumas cornadas violentas e duas operações a meniscos provocaram, em 1953, a sua retirada das arenas. O amor pela actividade é, no entanto, maior. Regressa em 1960. Embora com menor frequência, actua até 1972 em algumas corridas e em festivais para beneficência. Nunca deixou de estar ligado à festa brava: explorou a Sociedade Campo Pequeno e outras praças da capital. Criou, ainda, a Ganadaria de Porto Alto, no distrito de Santarém. Aquele que tinha tantas vezes enfrentado a morte na arena, não a conseguiu evitar ao volante de um automóvel em 18 de Fevereiro de 1973.

 

 

José Falcão, matador de toiros natural de Povos (Vila Franca de Xira), onde nasceu a 31 de Agosto de 1942. Morreu na "Plaza de Toros de Barcelona", vitima de uma colhida mortal perpretada pelo toiro "Cuchanero" com 506 Kg da ganadaria de Alípio Pérez-Tabernero, no dia 11 de Agosto de 1974. "José Falcón" como os espanhóis lhe chamavam, tirou alternativa em Badajoz em 23 de Junho de 1968, sendo seu padrinho de alternativa Paco Camino e como "testigo" outro "mito" das arenas Francisco Rivera mais conhecido por "Paquirri". Depois de se afirmar em Espanha, perante tão conhecedora e exigente "aficcion", José Falcão toureou no México, Portugal, Venezuela, mostrando ser um verdadeiro " eleito " da festa com faenas espectaculares, levando ao rubro o público das praças de toiros. Teria sido, não fora o infortunio, uma das maiores figuras de sempre do toureio em Portugal e demais países onde a "Fiesta de Toros" é apreciada. Hoje, na sua terra natal a Escola de Toureio com o seu nome, contribui para o aparecimento de novos toureiros e lembra a todos os aficionados e cidadãos de Vila Franca de Xira, a grande figura que foi este seu filho e que honra a terra e o país onde nasceu.