A capeia arraiana é uma corrida de toiros originária das terras de Ribacôa, aldeias da raia (fronteira com Espanha).
Considerada património etnográfico, a capeia arraiana é conhecida por ser uma tourada com caracteristicas únicas no Mundo.
É uma tradição com raízes ancestrais, ansiosamente aguardada pelos habitantes de Aldeia da Ponte e localidades vizinhas.
Ir buscar os toiros
A festa começa de manhã quando os habitantes,se apresentam no lameiro de onde serão escoltados os toiros até à praça. Começa um verdadeiro êxodo de motos, 4x4, tractores, camionetas, cavalos, bicicletas, ou qualquer outro meio de locomoção capaz de avançar nos campos próximos da fronteira espanhola. Objectivo: ir buscar os toiros, que são alugados para o evento. Os cavaleiros experientes demonstram as suas habilidades, coragem e discernimento na arte da cavalaria e na escolta dos toiros até à praça da aldeia (encerro). O tempo da escolta, varia com a habilidade dos cavaleiros e a reacção dos toiros.
Este grupo atravessa uma primeira vez a estrada nacional 332, fechada ao trânsito para a ocasião, embrenhando-se nos campos cobertos de giestas, antes de entrar num caminho ladeado de imponentes muros de pedra, que conduz novamente à estrada, atravessada uma vez mais. Depois deste ponto uma improvisada rua de «cancelas» conduz directamente à porta da praça, pela qual toiros e cavaleiros entram.
Empoleirados nas «cancelas» os espectadores esperam, impacientes, para ver passar o tropel, com medo e na expectativa que nenhum toiro se escape.
O encerro
A entrada de cavaleiros e toiros na praça é acompanhada de gritos dos espectadores. Momentos de incerteza, quando todos em monte entram e as pesadas portas se fecham quando da chegada do último cavaleiro. Um coro de palmas e gritos de encorajamento soa, não só para os cavaleiros mas também para os toiros.
De seguida os cavaleiros apressam-se a sair da arena para deixar o vedetismo aos toiros, que sacodem as cabeças de uma maneira provocante, em atitude de desafio. As portas dos «curros» abrem-se, alguns habituados munidos de grandes varas encimadas de aguilhões, com a sua voz estridente entram na arena e forçam os toiros a entrar no «curral». Isto por vezes demora mais que uma hora. Terminada esta acção, de novo um estridente bater de palmas se faz ouvir.
O «encerro» terminou. A emoção acalma, mas por curtos momentos, pois dentro de momentos tem lugar a «prova», onde será avaliada a valentia dos toiros, através da lide de um exemplar.
A prova
Logo que a porta do curro é aberta, o toiro entra na arena, em fúria, e corre em todos os sentidos na expectativa de cornar alguma das muitas pessoas que tentam a sua sorte ao passarem-lhe à frente do nariz.
De seguida vem o momento em que o forcão lhe é apresentado. O toiro revela a sua casta, poucos minutos são o suficiente para que demonstre toda a sua garra. O forcão é encostado ao muro da arena, mais alguns minutos de folia e o toiro é devolvido ao curro. A multidão aplaude efusivamente pois é neste toiro que se colhem as impressões para aquilo que a capeia vai ser.
O almoço
Perto das 13 horas os habitantes regressam a casa para o almoço.
A capeia arraiana é uma verdadeira festa. Vendedores ambulantes instalam-se junto à praça. Ao longo da estrada, os fumos e odores das carnes assadas misturam-se com os provenientes das casas da aldeia.
O pedido da praça
Um tamborileiro entra na arena seguido por cinco cavaleiros, montando cavalos ornamentados para a ocasião.
Eis os mordomos, com o seus acessórios típicos: uma espécie de lenço bordado cai-lhes pelos ombros, empunham gloriosamente a insígnia respectiva. No seu encalce um aglomerado de pessoas em fileiras, que, acompanhando os mordomos, dá voltas de apresentação à arena.
Em fila indiana dirigem-se a um local da tribuna para fazer o pedido da praça a uma personalidade da aldeia. Um mordomo avança e faz um pedido oficial para que a capeia comece (pedido da praça).
A personalidade, honrada, levanta-se e improvisa um discurso no sentido de que o espectáculo decorra da melhor maneira. Antes de se sentar, autoriza que a capeia comece. A multidão manifesta o seu contentamento, são lançados foguetes e os cavaleiros em cavalgada dão várias voltas à arena em agradecimento. Terminada esta agitação abandonam a arena para a lide do primeiro toiro.
A lide
Uma trintena de homens entra na praça e pega no forcão.
Dois homens (habituados e com habilidade) os «rabixadores» (rabejadores) coordenam os movimentos de todo o grupo. São eles que impedem o toiro de contornar o forcão e pôr em perigo os que o pegam nos flancos. Os homens de maior agilidade pegam à frente (à «galha»), no primeiro plano, fazendo frente ao toiro apenas protegidos por umas quantas galhas de arvore dispostas astuciosamente em forquilha. É neste preciso momento que homens e toiro rivalizam em coragem e astúcia para saírem vencedores do duelo.
Quando os pegadores avaliam que o touro deu o seu melhor, e num momento de desatenção do toiro, retiram o forcão e colocam-no no seu lugar. Alguns homens (os mais corajosos) desafiam o toiro, obrigando-o a correr em todos os sentidos, com o objectivo de o cansarem e confundirem para o conseguirem agarrar.
Das bancadas só se ouvem-se as palavras de encorajamento: «Agarrá-lo, agarrá-lo!»
Algumas vezes um homem atira-se à cabeça do toiro. Em poucos segundos saiem homens de todo o lado em ajuda ao aventureiro, imobilizando de imediato o toiro pela força humana. Depois de alguns segundos nesta postura, o toiro é libertado e os homens apressam-se a fugir para as barreiras, afim de evitar ser vítimas de uma cornada. Fica apenas um homem que agarra firmemente o rabo do toiro para que os outros se possam pôr a salvo, esperando o momento certo para que ele possa fazer o mesmo. Terminada esta tarefa o toiro é conduzido aos currais.
O toiro não é picado nem batido e no final sai da praça sem nenhuma ferida ou sangue visível.
Cinco outros toiros são corridos da mesma maneira. No meio do espectáculo é introduzida uma vaquinha para que os mais pequenos possam mostrar também as suas habilidades na lide, existindo um forcão à sua medida. O efeito nos espectadores é o mesmo que para os adultos. As mães gritam para os encorajar, mas estão cheias de medo com o que possa acontecer aos seus filhos.
Quando o sexto animal entra no curral, já a tarde está no seu fim.
O desencerro
Falta o momento culminante da corrida: «o desencerro». Os toiros voltam aos campos escoltados pelos mesmos cavaleiros que participaram no «encerro».
Locais e datas de realização
- Aldeia do Bispo (Sabugal): (Segunda) 2ª-feira de Agosto
- Aldeia da Ponte: 15 de Agosto
- Aldeia Velha (Sabugal): 25 de Agosto
- Alfaiates: 17 de Agosto
- Fóios: Terça-feira a seguir ao (terceiro fim-de-semana) de Agosto
- Forcalhos: (Terceira) 2ª-feira de Agosto
- Lageosa da Raia: 6 de Agosto
- Ozendo: Quarta-feira a seguir ao (segundo domingo) de Agosto